domingo, 19 de janeiro de 2014

Os absurdos nas "teorias da conspiração" os são por ponto de vista

É muito comum a esquerda jogar tudo quanto se julga por "teoria da conspiração" para o lado oposto do espectro político. O episódio que mostra bem essa concepção é aquele em que o colunista do Folha de São Paulo, Antonio Prada, simulou em seu texto a adesão de idéias as quais, segundo a ironia do próprio texto, não passam de teorias mirabolantes sobre conspirações da direita política, como são as investidas gayzistas, feministas entre outros movimentos da massa revolucionária.

Mas a noção conspiratória se equivale aos dois lados, ou a quantos outros lados tiverem o espectro político-ideológico. Por exemplo o fato em que a FIFA "não quis saber do casal de negros e escolheu um casal de loiros sulistas para apresentar a cerimônia do sorteio de grupos para a Copa do Mundo" (aqui). Isso, por mais que saibamos que o preconceito existe, é uma teoria com o intuito de asseverar a discriminação existente entre as elites. Ora, não é diferente das "teorias da conspiração da direita".

Um elemento indispensável em qualquer teoria da conspiração é sem dúvida a presença da mensagem subliminar. Existem as mais absurdas dessas nas teorias comumente achadas na web, mas a que você vai vê a seguir não existe igual nem nos piores blogues sobre "iluminates".  A carta a seguir (via) é de uma associação feminista o qual enxerga em textos e cantigas populares elementos que "constitui um retrocesso no que se refere ao desenvolvimento e concretização dos Planos para a Igualdade", mostrando como há nessas, mensagens que às crianças são subliminares beneficiando a "tolerância da violência no namoro", entre outras "mensagens sexistas".


CARTA ABERTA AO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
A propósito do texto da Prova de Aferição do Ensino Básico 2010
A UMAR, União de Mulheres, Alternativa e Resposta, vem denunciar a mensagem estereotipada presente no texto da Prova de Aferição do Ensino Básico 2010. Este texto atenta a a legalidade portuguesa em matéria de igualdade, assim como se constitui um retrocesso no que se refere ao desenvolvimento e concretização dos Planos para a Igualdade. 
Nessa medida, vimos junto de V.Exa. denunciar este acto irresponsável de sexismo que mostra como em Portugal não existe, por parte do Estado, uma consciência real no que se refere às suas próprias políticas. 
Em primeiro lugar, a utilização por sete vezes, do vocábulo Homem tem sido desde há muito denunciado como prática de uma linguagem sexista que vem sendo substituída pela necessidade de uma linguagem mais inclusiva, matéria, aliás, do Referido no III Plano da Igualdade 2007/2010 e da Lei nº 47/2006. 
Mas não é só esta mensagem que está presente neste texto. É um texto que, de alguma maneira, se assemelha à letra da canção « O mar enrola na areia », que a certa altura da canção, se explicita « bate nela quando quer ».
Ora vejamos o texto que aqui nos traz. 
Em primeiro lugar, há em todo o texto uma atmosfera de namoro entre o personagem Homem e a personagem Lua : « houvera entre ambos uma espécie de longo namoro à distância», « o Homem, porém, nunca deixou de lhe dedicar belos poemas ». 
Em segundo lugar, é um namoro que parece correspondido : « a Lua procurou sempre enviar-lhe as suas centelhas de luz como se quisesse dizer-lhe « sabes onde estou… » », aliás, « o Homem nunca teve dúvidas a esse respeito ». 
Situadas/os que estamos num contexto de namoro, vejamos agora como este texto passa uma mensagem estereotipada e de tolerância à violência de género: « Quando o Homem pisou o seu solo áspero e poeirento », « Quando o homem pôs a primeira vez os pés no solo lunar »
Dirão que esta é uma linguagem figurada e que, portanto, fazer aqui a ligação a personagens humanas é um exagero. Assim seria, se não fosse o resto do conteúdo do texto. Todo o texto faz a personificação da LUA como uma Mulher, e aqui vemos como as mensagens subliminares de tolerância da violência no namoro se conjugam com a perpetuação dos estereótipos : « …a Lua sentiu-se (…) triste, por não ter sido avisada com tempo suficiente, para se embelezar e poder recebê-lo », « ela queria estar bela e sedutora no momento daquele encontro », « A Lua, como qualquer mulher que cuida da sua imagem… », « …tinha para lhe mostrar (…) a solidão das suas crateras… ». 
Mas não fica por aqui, a mensagem vai mais longe : o enamoramento à distância é muito melhor do que a relação real entre corpos e tempos : « A Lua (…) sempre soubera que a distância favorece o jogo do enamoramento, pois mantém pouco visíveis as rugas, as madeixas desalinhadas e outras pequenas e grandes imperfeições… » 
Finalmente, e depois de tudo isto, ainda se coloca como exercício de escrita um « Bilhete », que vem já assinado como « O Homem », condicionando qualquer pensamento crítico, divergente, não estereotipado, não deixando espaço de liberdade a raparigas e a rapazes que não se identifiquem com esta estereotipia balofa e atentadora dos direitos humanos. 
Enquanto organização feminista e de mulheres não poderíamos deixar passar em branco esta pérola de sexismo, de agismo e, sobretudo e de forma inaceitável, de tolerância à violência de género. 
Bem sabemos que o texto é de um escritor reconhecido ao qual não queremos tirar o mérito. No entanto, qualquer equipa com um pouco mais de consciencialização poderia escolher do mesmo autor centenas de excertos sem esta estereotipia e tolerância à violência de género. Até porque colocar a Lua como vítima nem sequer é artístico. 
Maria José Magalhães 
Presidente da UMAR 

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