A pesquisadora do IPÊ Patrícia Medici e o veterinário e ilustrador Ronald Rosa lançaram em Janeiro um movimento em favor de animais que sofrem por terem seus nomes utilizados pelas pessoas de forma negativa. A ideia teve origem no trabalho educativo da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, coordenada pela pesquisadora, que, dentre várias ações, busca conscientizar a população sobre a importância da espécie e desmistificar a ideia de que "anta" significa um ser sem inteligência. (Daqui)
Ainda no assunto da linguagem, trago esse caso do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), no qual pretende-se "desmistificar" as imagens negativas de alguns animais. O intuito alegado é "rebater" o costume brasileiro de utilizar "anta" como forma de insulto, mas o que se está a "rebater", na verdade, é a linguagem que prevalece em toda a cultura ocidental. Explico.
Mas antes que você vá pensando que uma campanha como essa tenha surgido da espontaneidade, leia este artigo de Olavo de Carvalho.
Voltemos ao caso.
Na frase: “O porco merece esse nome porque é um animal sujo.” Temos como significante o substantivo “porco” e como significado “animal sujo”.
Partindo então do princípio do linguista Ferdinand de Saussure, segundo o qual afirma que os sons que compõem uma palavra são totalmente arbitrários e nada têm a ver com o significado, o substantivo “porco” é uma palavra convencionada, e em vez de “porco” poderíamos chamar de “geladeira” ou “matemática”, ou outro nome qualquer. Contudo, a palavra “porco” acaba designando não só o animal como também a sua característica de ser um animal sujo, tudo isso devido a uma escrita fonética (que prevalece em toda a cultura ocidental) que nos induz uma imagem mental.
Quando usamos "porco" no sentido "negativo" é porque o substantivo “porco” passou a ser um adjetivo que existe em função de uma realidade que é a de que o porco é, normalmente em seu chiqueiro, porco (sujo). O que se está pedindo é que ignoremos a realidade e digamos que o porco é limpo (Ah! Mas há porquinhos que vivem asseados). Essa campanha (que parece ter Derrida como padrinho) pode chegar a conclusão de que o simples fato de dizermos que o porco é porco é resultado de uma “dominação” do significado em relação ao significante, o que é resultado de uma a escrita fonética presente na linguagem de toda a cultura ocidental e não somente "no costume brasileiro". Podemos retirar daqui a conclusão de que existe uma “linguagem de dominação” sobre o coitado do porco, da anta (se bem que há sim, quando chamam de anta a Dilma), do burro, da baleia. Se essa lógica pode ser utilizada com os bichos, imagine o que ela não pode fazer com "questões complexas da vida humana", como os intelectuais dos movimentos revolucionários gostam de falar.
Esta postagem foi elaborada a partir deste artigo do blogue Perspectivas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário