domingo, 9 de fevereiro de 2014

Globo aposta em novela com elementos gnósticos

Desde sua estréia, a novela global Além do Horizonte vem enfrentando problemas na audiência. Segundo a crítica o motivo dessa problemática estaria no enredo nada convencional para uma novela da emissora. O que a crítica chamou de enredo não convencional eu dou o nome de enredo gnóstico, os  traços de uma trama que envolve temática tipicamente gnóstica são bem fortes na estória da novela.

Alice

A começar pelo nome da personagem principal: Alice. Todas as "Alices" que vieram depois da famosa Alice de Lewis Caroll (Charles Dudgson) fazem alusão a esta, isso é uma afirmação confirmada por muitos (senão todos) que trabalham com análises de obras literárias e cinematográficas. E em uma obra televisiva não seria diferente.


O "País das Maravilhas" da Alice global nos mostra outra característica do enredo que não é apenas gnóstico, mas é o gnosticismo em sua forma atual no mundo pós-moderno. A Wonderland contemporânea é uma realidade construída pelo homem, que na novela é representada pelo desejo do Pai de Alice em buscar a "felicidade concreta" dentro de uma comunidade oculta à sociedade. E nisso encontramos mais um elemento gnóstico, tanto no contemporâneo como no da antiguidade tardia: a existência de alguns pneumáticos.

Os pneumáticos e o Existencialismo

O gnosticismo divide a humanidade em três categorias: hílicos, psíquicos e pneumáticos. Os Hílicos são os presos à matéria; na novela são todas as pessoas que se conformam em viver suas vidas comuns e buscam sua felicidade nesta. Os psíquicos são aqueles que buscam a redenção pela fé; na novela são todos aqueles que buscam a felicidade, mas a veem de uma maneira abstrata. E por fim encontramos os pneumáticos, estes são aqueles que estariam aptos a alcançarem a gnosis; na novela são aqueles pouquíssimos que buscam a felicidade concreta, que tentam mudar a realidade e dedicam suas vidas a isso. Essa última é a mesma característica da mente revolucionária.

O gnosticismo acredita que todos os pneumáticos são um dia despertados para começarem sua jornada rumo a libertação. Esse despertar é de responsabilidade da Deusa Sophia (Donzela dos Céus) no gnosticismo da antiguidade tardia, mas na pós-modernidade esse papel vem sendo desempenhado por algo ainda mais imanente ao ser humano: o Existencialismo. Nesse, a busca por atribuir sentido à vida do sujeito se dá a partir da sensação de confusão deste frente a uma realidade sem sentido e absurda. Através da crise de identidade e da dúvida sobre si mesmo o pneumático pós-moderno inicia sua busca rumo a salvação e quitação de todas essas dúvidas.

A epístola conservada

O autor da novela ilustrou esse despertar de consciência através de outra característica do gnosticismo contemporâneo, sobretudo dentro de um ambiente religioso, que é o retorno a um passado glorioso. Eu estou preparando uma outra postagem exclusivamente com esse tema, mas este é aquela sensação de que existiu uma época melhor do que a atual que é marcada pela presença de alguém, que para a religião é a presença de seu maior profeta. Essa é a ferida mortal de toda a religião: a morte de seu profeta. Mas eis que surge a possibilidade de recuperar a convivência com tal. Essa também é uma maneira de manipular a massa revolucionária, como Hitler fez através da propaganda do Terceiro Reich a partir de uma reestruturação civilizacional se baseando em uma glória dos império germânicos do passado.

A Alice da novela entra em sua crise existencialista após ter conhecimento de uma carta de seu pai que ela acreditava estar morto. Aqui fica impossível não traçarmos um paralelo com o advento de Baha'u'llah que se diz ser a volta de todos os profetas anteriores e escreveu epístolas a reis e sacerdotes de todo o globo. Mas sobre tais epístolas não se pode afirma nem que foram lidas por aqueles a quais foram destinadas. A mesma coisa aconteceu na novela, a leitura da carta foi preservada para um estágio de maturidade da personagem.

O mito da besta

Em um outro núcleo da novela, na cidade fictícia de Tapiré, corre entre os moradores a lenda de uma besta que ataca e mata suas vítimas. Sabe-se que a pessoa foi vítima da besta através de uma marca que essa deixa no corpo. Em uma análise gnóstica, a besta do apocalipse é a representação do ser ser humano que não tem controle sobre si. Lá, a besta de fato existe, e é o "dono" da cidade, Kléber. Ele é uma espécie de Demiurgo dentro de uma esfera menor, que tenta impedir a chegada do conhecimento (gnosis) trazido por Celina, a professora, que libertaria os moradores da opressão de Kléber. O nome Celina vem da palavra "céu" e pode ser uma alusão àquela que é vinda do céu: Sophia e a Rainha dos Céus. Aqui a besta é tratada apenas em seu estado bruto (666) de trevas, a besta age no blackout, quando não há luz (9). Ou seja, depois que a besta (666) for vencida, não há mais necessidade de se preocupar com ela, então afirmar que ela continuaria existindo em outra forma (999) seria persistir em uma lenda.

2 comentários:

  1. Gostaria muito que me dissesse um site com este tipo de conteúdo mas em inglês,para que possa partilhar com meus amigos.

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    1. Se você estiver se referindo ao assunto "ordem mundial de baha'u'llah", há esta página http://mankindlastchance.wordpress.com/

      Mas ela não tem atualizações, é fixa,

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