sexta-feira, 18 de abril de 2014

Imanentização: para que um pintor se podemos nos pintar?

Um castelo, jardins floridos e uma floresta ameaçadora, isso foi o que, por razões misteriosas, um pintor deixou incompleto. Três tipos de personagens vivem nesta pintura: os Toupins, que são totalmente pintados, os Pafinis, parcialmente pintados, e os Reufs, que possuem apenas algumas marcas de contornos esboçados. Considerando-se superiores e agraciados pelo pintor, os Toupins possuem o poder, perseguem o Pafinis, e escravizam os Reufs. Convencidos de que somente o pintor pode restaurar a ordem terminando a pintura, um Toupin diferente, uma Pafini aventureira e um Reuf resmungão vão à procura dele. Ao longo da aventura, tentarão sanar suas dúvidas: O que aconteceu com o pintor? Por que ele os abandonou?

A animação francesa O Quadro (Le Tableau) de 2011 traz consigo um conjunto de conceituações mundividenciais próprias dos movimentos místico-religiosos já tão abordados no blogue. O Filme ilustra bem a noção de construção do Reino de Deus na terra pela imanentização em prol da causa de igualdade. 

A realidade é uma obra inacabada

O Quadro da animação é um microcosmo da nossa realidade e assim como tal estava inacabado também a obra do Criador (Pintor) está. Uma coisa interessante destacar é que aquilo que ainda faltava para a obra estar completa não estava na paisagem (natureza), mas nos personagens (Pafinis e Reufs). Esse é o elemento que faz esses movimentos mistico-religiosos estarem engajados socialmente falando num contexto mundial.

O determinismo

O fato da obra estar inacabada acabou por acarretar numa divisão de classes por base nos "níveis de detalhes pintados" presentes nas personagens. Isso fez com que a classe dos Toupins, com maior nível de detalhes pintados, fizesse uso deste determinismo fatalístico para se afirmarem como privilegiados da parte do Pintor e assim morarem no castelo, discriminar os meio pintados, os Pafinis, e escravizar os esboços, os Reufs.

A volta do Pintor

Havia entre as classes dos não inteiramente pintados a crença de que um dia o Pintor tornaria a pintar o quadro, colocando todos em pé de igualdade de detalhes. Essa crença era ridicularizada pelos Toupins, exceto pelo apaixonado Ramo, o qual acreditava que um dia o Pintor completaria a pintura na Pafini pela qual era apaixonado. 

Como o Pintor tardava a voltar, e após um grupo composto pelo Toupin Ramo, um Reuf resmungão e uma jovem Pafini aventureira excederem os limites os quais ninguém até então havia ultrapassado, depois de fugirem das tropas dos Toupins, decidem prosseguir em busca do Pintor.

Essa é uma perfeita ilustração do conceito de imanentização escatológica: Os personagens tinham uma crença no regresso do Pintor (Eschaton), mas como tardava o artista, eles decidiram ir de encontro a Ele (trabalho imanentizante). 

 A união pela transcendência

O personagem principal, o Toupin de nome Ramo, apesar de pertencer à classe alta, se importa com as demais classes e tenta encontrar o Pintor. Essa ação, de negar as bonanças da vida de casta superior em nome da busca do favor divino, foi comum aos manifestantes solares como Siddhartha, Moisés, Krishna, Mirza Husayn, todos esses nasceram em uma linhagem social superior e optaram por serem mensageiros da luz divina.


Os três personagens, e mais tarde o pequeno soldado também, se unem com um mesmo intento: achar o Pintor. O Pintor estava fora da realidade dos Quadros, estava transcendente à sua criação. O princípio que a fé Baha'i se utiliza para sustentar a ideia de unidade das religiões está na transcendência divina (ver), o mesmo conceito utilizado pela chamada Filosofia Perene. Acontece que essa noção de unidade transcendental das religiões é apenas um simulacro que nivela as religiões por um conceito que já está a se perder no tempo. Os personagens não encontraram o Pintor, apenas sua representação em um autorretrato.


A solução


Apesar do fator que uniu os personagens ser a busca do lado de fora pelo Pintor, a solução para o problema da irregularidade da pintura eles encontraram do lado de dentro da própria realidade da pintura. Se a união das religiões é alcançado pelo elemento transcendental da divindade, é na imanentização que a solução dos problemas de fato é encontrada. Os personagens percebem que eles mesmos tinham a capacidade de mudar a realidade, desistiram da busca pelo Pintor e decidiram procurar diretamente a tinta.

Conclusão

A marca da besta na mão direita do homem é ação imanentizadora do processo escatológico, passando ao homem a responsabilidade da construção de novos céus e novas terras. A marca de Deus na fronte dos escolhidos é a fé e a certeza (a fé não possui incertezas) de sua salvação por intermédio unicamente de Jesus Cristo. O homem contemporâneo tem fobia da fé por isso coloca toda a sua confiança em si mesmo e na força de seu braço.
Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável. Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor. Jeremias 17:5-7

Um comentário:

  1. Assim Diz O Senhor Ou Seja Satanás, O Diabo Jeová No Antigo Testamento:http://joaorevela.blogspot.com.br/

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