sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Desinformação: A Zueira Metalinguística


Esta foto acima é uma versão "zuada" da foto em que Dilma come um cachorro-quente em Osasco. A montagem foi feita por uma página humorística de Facebook da cidade, sem intenções políticas. Entretanto, a imagem acabou ganhando grande visibilidade devido aos compartilhamentos vindos de páginas "anti-petralhas".

A imagem não passava dúvidas de que era uma montagem e que não era sua intenção veicular um fato real.  Mas isso não impediu da mesma ganhar uma proporção que nem seus criadores imaginavam, e caminhar por discussões não pretendidas. É aqui que entra o conceito de "zuera metalinguística": Uma paródia que se baseia em outras anteriores, de tal forma que se perde a noção das características que formam uma paródia como a ironia e o humor.

No mesmo embalo da divulgação da dita imagem, uma nova página com o nome de "É mentira da Direita" foi criada com um caráter ambíguo: esta seria uma página de esquerdistas ou seriam direitistas parodiando o esquerdismo? A tal página sentiu a necessidade de fazer uma refutação à claríssima montagem de Dilma comendo um pombo.


Na refutação percebemos alguns elementos que são típicos (ou será que não?) da forçação da linguagem estereotipada. Expressões como "querida presidenta" e "num ato de humildade e complacência" evidenciam uma adoração exacerbada que não seria vista (ou será que sim?) em um texto sério. Outros trechos deixam escapar, ainda que de leve, o tom irônico, como em "uma grotesca montagem indicando que na verdade nossa presidenta estava comendo um pombo cru!". Se o pombo estivesse assado não teria problema?

Em cima desse fato, as páginas "anti-petralhas" citadas anteriormente ridicularizaram a ação "esquerdista" da página em provar uma coisa tão óbvia. Nesse momento vemos a paródia virar pastiche. Não perceberam que essa era uma página-paródia, e por quê? Por que imitava fielmente o estilo do parodiado? Ou por que imitava fielmente o modo como essa pessoa enxerga o estilo do parodiado?

Isso acaba criando ambientes em que pessoas debatem vorazes contra simulações de seus adversários. Um cenário autístico no qual a desinformação sofre um processo de retroalimentação até o ponto onde a simulação começa a dominar. 

Para que um texto não caia na confusão que virou as sátiras espalhadas pela internet, é necessário que este tenha um ponto claro de identificação de que seja uma ironia. Por exemplo: se eu digo "Eu apoio o movimento LGBT.", essa é uma afirmação que não dá para perceber um possível tom irônico, mas se eu digo "Eu apoio o movimento LGBTXPOW27." a pessoa identifica de cara que se trata de uma ironia já pelo deboche da sigla.

Pesquisas:
O caso:
O efeito metalinguístico na informação:
A perca da noção da sátira:

Nenhum comentário:

Postar um comentário